Uma análise sobre os Relatórios da Gestão das cooperativas brasileiras
Dentre o rol de demonstrativos contábeis e documentos de divulgação obrigatória pelas companhias de capital aberto, conforme estabelecido pela Lei nº 6.404/76, está o Relatório da Administração. Apesar de não se tratar de um demonstrativo contábil, esse documento assume um papel similar a tal, em razão de sua importância para a tomada de decisão dos acionistas e credores atuais e em potencial.
Isso acontece uma vez que nem toda informação financeira relevante pode ser capturada pelas demonstrações financeiras. Nesse sentido, nota-se uma tendência generalizada dos relatórios de administração em dar preponderância às informações de natureza qualitativa, como assuntos relacionados à sustentabilidade, ativos intangíveis e outros dados que auxiliam na criação de um prognóstico para o negócio. Desse modo, um bom relatório de administração pode ser um grande aliado do usuário da informação contábil na análise das demonstrações e compreensão da realidade econômica da empresa.
Apesar disso, ainda não há um padrão estabelecido pelas autoridades regulatórias do mercado de capitais ou pela Federação Internacional de Contadores (IFAC) para a elaboração desse documento, de modo que a administração das empresas tem grande autonomia para a determinação das informações divulgadas, o que pode resultar em grande subjetividade e dificuldade na análise do relatório. Além disso, de acordo com Gelbcke et al. (2018)[1], a administração pode utilizar esse relatório com a finalidade de autopromoção ou para promover interpretações favoráveis aos resultados da companhia quando as demonstrações contábeis mostram o contrário.
No caso das sociedades cooperativas, temos o Relatório da Gestão como equivalente ao Relatório da Administração das sociedades anônimas de capital aberto. Essas, por sua vez, ficam obrigadas à divulgação desse relatório por força da Lei nº 5.764/71, a Lei das Cooperativas.
O Relatório da Gestão adéqua-se às sociedades cooperativas em razão de suas características e função social diversa das sociedades empresárias; porém, do mesmo modo que nas sociedades anônimas, os usuários das informações financeiras das cooperativas sofrem com a falta de padronização e grande subjetividade ligada à publicação desse relatório.
Ainda assim, a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) (2010, p. 1)[2], órgão máximo de representação do cooperativismo no país, sugere, como itens mínimos a serem contemplados em um relatório de gestão, os seguintes pontos:
- Indicadores de evolução do quadro social no exercício, preferencialmente com quadro comparativo dos três últimos exercícios (nº de cooperados, admissões, demissões, exclusão e eliminação) e detalhado no aspecto do sexo (masculino e feminino) e, ainda se puderem, com especificação também das faixas etárias (Ex.: nº de cooperados homens e mulheres, com faixa etária de 18 a 24 anos e acima de 24 anos);
- No caso específico das cooperativas do ramo agropecuário, é muito importante especificar a questão fundiária (tamanho das propriedades dos cooperados, produção destes e participação nas atividades da cooperativa) dos cooperados;
- Movimento/evolução do quadro de colaboradores diretos e indiretos;
- Ingressos totais (prestar atenção quanto a essa nomenclatura);
- Impostos e contribuições recolhidas;
- Eventuais ações sociais desenvolvidas pela cooperativa, referentes a investimentos em projetos de responsabilidade social, inclusão social, apoio ao esporte amador e outros que achar conveniente;
- Descrição dos investimentos realizados, tais como em infraestrutura, modernização, logística, aquisições de bens móveis e imóveis;
- Descrição de capacitações e treinamentos do quadro social, colaboradores e dirigentes;
- Capital social, evolução comparativa dos últimos três exercícios;
- Ativo Permanente, evolução comparativa dos últimos três exercícios;
- Sobras, evolução comparativa dos últimos três exercícios e sua destinação na última Assembleia Geral Ordinária (AGO);
- No caso específico de cooperativas do ramo crédito, é importante constar no relatório de gestão: depósitos à vista, depósitos a prazo, nº de empréstimos, taxas médias de juros cobradas no exercício, tarifas cobradas e sua diferenciação com o mercado;
- Parecer de Auditoria Interna e Externa, se houver;
- Dados específicos inerentes às atividades de cada ramo;
- As cooperativas que possuem Planejamento Estratégico podem apresentar aos seus cooperados a evolução das metas (aquelas que podem ser compartilhadas com o público externo) e que representem um efetivo avanço da cooperativa.
Analisando relatórios de gestão, podemos notar uma grande melhora nos níveis de evidenciação nos últimos anos; contudo, alguns itens mínimos ainda continuam sendo ignorados em reports mais recentes. Destaca-se a questão fundiária nas cooperativas agropecuárias apesar de estar intimamente ligada ao desenvolvimento social da comunidade e ao princípio da participação econômica; esse ponto não é abordado na maioria dos relatórios. Podemos apontar também, como problema recorrente nos relatórios divulgados, a falta de comparabilidade, já que a maioria deles não divulga informações financeiras dos últimos três exercícios.
Em razão da multidisciplinaridade envolvida na construção do Relatório da Gestão e da necessidade de integração entre informação operacional e financeira, a ajuda de profissionais qualificados é de extrema importância para a elaboração de um relatório que atenda à necessidade informacional dos stakeholders.
A Valuup Consultoria conta com uma equipe especialista em contabilidade e finanças, com vasta experiência na atividade cooperativista, para auxiliar na elaboração do Relatório da Gestão.
[1]Gelbcke, E. R., Santos, A., Iudícibus, S. & Martins, E. (2018). Manual de Contabilidade Societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas.
[2]SISTEMA OCB. Orientações gerais sobre relatório de gestão da cooperativa. 2010. Disponível em: <http://www.ocbes.coop.br/ocb/integracao_cooperativista/bannerparasite/2010/manual_concocacao_2010/RELATORIO_GESTAO_2.pdf>.