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Discussões sobre a taxa de desconto no valuation de startups

Um dos elementos cruciais de um valuation pelo método do fluxo de caixa descontado é a taxa de desconto. Essa taxa determina o desconto a ser aplicado aos fluxos de caixa projetados da empresa ao longo do tempo, incorporando não somente o valor do dinheiro no tempo, mas também os riscos do negócio e o custo de oportunidade dos acionistas.

O cálculo mais usual para a taxa de desconto é feito pelo WACC (Custo Médio Ponderado de Capital, na sigla em inglês). Esse método leva em conta o custo do capital próprio, o custo do capital de terceiros e a razão dívida/patrimônio líquido.

O custo de capital próprio considera o custo de oportunidade de investimento do acionista. Para isso, fatores como beta do setor, taxa livre de risco, prêmio de risco, risco-país e inflação são levados em conta.

Para empresas maduras, os métodos citados já estão consolidados na literatura e na prática ao redor do mundo. Já quando tratamos de startups, a forma de calcular essas medidas não estão pacificadas na literatura especializada.

Conforme artigo do professor Aswath Damodaran, da Universidade de Nova York (NYU)[1], como startups normalmente não possuem ações em bolsa, o cálculo do beta deve se basear em empresas do mesmo setor que já passaram por etapas semelhantes em seu ciclo de vida.

Ciclo de vida de uma startup

Ciclo de vida de uma startup
Fonte: Silva, Pedroso e Carrete, 2017.[2]

Além disso, o autor também considera que o beta deve considerar a diversificação do portfólio dos acionistas da empresa ao longo da linha do tempo desta já que, inicialmente, consiste somente dos fundadores da empresa. Depois se somam os venture capitalists e, por fim, quando a empresa atinge sua maturidade, o beta da empresa converge para o beta do setor.

Damodaran também acredita que, conforme as empresas se movem ao longo de seu ciclo de vida, alterações ocorrem no comportamento de seu risco e fluxo de caixa. Assim, para preservar a consistência do modelo, o custo do capital próprio também deve mudar ao longo do tempo.

Bhagat (2013),[3] buscando uma explicação racional para as elevadas taxas de desconto empregadas por venture capitalists, julga que suas taxas levam em conta a probabilidade de sucesso do investimento. Quanto maior a probabilidade de sucesso, menor a taxa empregada.

Na aplicação prática, é comum que o risco adicional das startups seja considerado no WACC através de prêmios de risco mais elevados, em especial, riscos de insucesso e liquidez.

Por fim, as taxas de descontos utilizadas no valuation de startups são mais elevadas que as de empresas maduras devido ao maior risco associado à sua operação, risco esse que tende a se reduzir conforme a empresa se move ao longo de seu ciclo de vida.


[1] DAMODARAN, Aswath. Valuing Young, Start-Up and Growth Companies: Estimation Issues and Valuation Challenges.Stern School of Business; New York University (NYU). Nova York, jun. 2009.

(June 12, 2009). Disponível em: <http://people.stern.nyu.edu/adamodar/pdfiles/papers/younggrowth.pdf> . Acesso em: 22 out. 2021.

[2] SILVA, Marcelo Tavares da; PEDROSO, Marcelo Caldeira; CARRETE, Liliam Sanchez. Impacto do ânimo do mercado de capitais no resgate dos investimentos de venture capital. Anais. São Paulo: EAD/FEA/USP, 2017. Disponível em: <http://sistema.emprad.org.br/2017/arquivos/122.pdf>. Acesso em: 22 out. 2021

[3] BHAGAT, Sanjay. Why do venture capitalists use such high discount rates?, Journal of Risk Finance, Emerald Group Publishing, [v. 15(1), p. 94-98, jan. 2014. Disponível em: <https://leeds-faculty.colorado.edu/bhagat/Bhagat-JRF-2014.pdf>.  Acesso em: 22 out. 2021