A Taxa Selic e a saúde financeira das empresas
Com o início da epidemia de COVID-19 originada na China, mais os desafios políticos internos e o conflito entre Rússia e Ucrânia, o Brasil vem enfrentando uma difícil situação econômico-financeira. A taxa de inflação atingiu o patamar de 11,5% em julho de 2022 e, em função dessa alta, a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, a qual serve como referência para diversas operações financeiras no país, também obteve uma alta significativa.
Conforme demonstrado no Gráfico abaixo, a taxa Selic vinha apresentando queda desde 2017, chegando a atingir 2,72% em 2020. No entanto, a partir de 2021, devido ao aumento da inflação, houve uma elevação acentuada alcançando o patamar de 13,75%, que se mantém até o momento.
Fonte: Ipeadata.
Mas em que tudo isso impacta no mercado brasileiro?
Se analisarmos o ambiente atual, essa alta da taxa Selic tem impactado significativamente a indústria e o varejo brasileiro. O custo do endividamento está extremamente elevado e a concessão de crédito diminuiu, em decorrência do patamar da taxa de juros. Muitas empresas estão enfrentando dificuldades financeiras e, em consequência disso, encontram empecilhos para cumprir suas obrigações. A maioria depende de empréstimos junto a bancos e instituições financeiras para financiar seu capital de giro; porém, os custos altos para obter essas linhas de crédito tornaram-se excludentes, dificultando a recuperação dessas empresas.
Esse processo tem causado um impacto devastador em companhias de diversos setores, que estão acumulando dívidas. De acordo com a Serasa Experian, até junho de 2023, 6,5 milhões de empresas encerraram o período, inadimplentes, representando um aumento de 1,4 milhão (27%) em comparação com os 5,1 milhões de 2017. É evidente o reflexo das altas da Selic nos períodos subsequentes.
Segundo o relatório Focus do Banco Central do Brasil, datado de 10 de julho de 2023, a previsão de inflação para o final deste ano é de 4,95%. No longo prazo, para 2026, a previsão é de queda para 3,50%. Já em relação à taxa Selic, estima-se que ela caia para 12% até o final do ano, e a perspectiva para 2026 é de 8,75%. O processo de desinflação no Brasil está mais avançado em comparação aos Estados Unidos, onde ainda é esperado um aumento em sua taxa básica de juros para controlar a inflação.
Apesar da desaceleração da inflação em 2023, o Banco Central do Brasil ainda está mantendo taxas de juros no percentual de duas casas acima da vírgula, para garantir a eficácia do controle inflacionário. Há expectativas de que a taxa Selic seja reduzida em 0,25 p.p. já na próxima reunião do Copom, o que gradualmente reduzirá a pressão econômica sobre o mercado brasileiro dependente de crédito.